Mulheres ganham até 72% a mais que homens em Instituição de Garça

Relatório da instituição revela “desigualdade invertida”, mas falta de detalhes impede conclusões claras

A Patrulha Juvenil de Garça, organização com 114 funcionários, divulgou seus relatórios semestrais de Transparência e Igualdade Salarial de 2024, conforme exige a Lei nº 14.611/2023. O levantamento trouxe um dado incomum: mulheres receberam salários significativamente superiores aos dos homens, contrariando a média nacional.

Os números

Relatório do 1° semestre de 2024

Relatório do 2° semestre de 2024

No primeiro semestre de 2024:
  • A mediana salarial feminina foi 41,9% maior que a masculina.
  • A média salarial das mulheres superou em 72,3% a dos homens.

No segundo semestre:

  • A diferença na média caiu para 65,9%, mas a mediana permaneceu a mesma.

Para efeito de comparação, no Brasil, mulheres ainda ganham, em média, 20% a menos que os homens, segundo o IBGE.

Se analisamos os números divulgados pela Patrulha, podemos aplicar o seguinte exemplo ilustrativo: em um grupo hipotético de 10 homens recebendo R$ 1.412 (salário mínimo), metade das mulheres na mesma situação ganharia acima de R$ 2.003,63. Já a média geral dos salários femininos foi de R$ 2.432 no primeiro semestre e R$ 2.342,51 no segundo.

O que pode explicar a diferença?

  1. Mudanças na Equipe

    • A proporção de mulheres caiu de 46,7% para 43,9% entre os semestres.
    • Já os homens passaram de 53,3% para 56,1%.

    Se as funções mais bem pagas passaram a ser ocupadas por mulheres, isso poderia explicar a disparidade.

  2. Variações por Categoria Profissional

    • Entre os trabalhadores administrativos, a diferença caiu de 125% para 100%.
    • Entre os operacionais, a vantagem feminina caiu de 177,7% para 163,2%.

    Porém, sem um relatório mais amplo, com detalhes sobre os cargos, experiência e qualificações, não há como saber se a discrepância se deve a diferenças estruturais ou distorções salariais.

Transparência nos dados

O fenômeno, conhecido como desigualdade invertida, levanta dúvidas sobre a equidade real dentro da instituição. Segundo um especialista consultado pela reportagem:

“Sem informações sobre hierarquia e qualificações, não podemos afirmar se essa diferença é legítima ou uma distorção.”

Além disso, a organização não detalhou a metodologia usada para calcular as disparidades nem apresentou medidas para equilibrar os salários. Isso fere a Lei nº 14.611/2023, que exige que empresas expliquem suas análises e indiquem ações para garantir justiça salarial.

A divulgação dos números é um passo importante, mas a falta de contexto dificulta a compreensão. Como alerta uma auditora trabalhista:

“Dados sem explicação geram mais perguntas do que respostas.”

Enquanto a instituição não esclarecer os critérios adotados e promover ajustes, a desigualdade invertida segue como um paradoxo: um aparente avanço estatístico que, na prática, pode esconder problemas estruturais na política salarial ou apenas um erro de digitação durante a colocação de dados no sistema.


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