Estudo da Fiocruz desvenda mecanismo ligado a casos graves de Covid


Uma pesquisa liderada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), publicada na revista BMC Infectious Diseases, trouxe novas respostas sobre os fatores que determinam a gravidade da Covid-19. O estudo identificou que a desregulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) — responsável por regular a pressão arterial e a resposta inflamatória — está diretamente associada ao agravamento da doença, especialmente em idosos e pacientes com comorbidades, como diabetes e hipertensão.

Sistema SRAA: um eixo na infecção
Analisando amostras de sangue de 88 pacientes internados no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), os pesquisadores observaram redução na expressão de receptores do SRAA, como ACE2 e MAS1, em casos graves. Essas proteínas são essenciais para controlar inflamações e manter a saúde vascular. A queda em sua produção, agravada pela infecção pelo SARS-CoV-2, compromete mecanismos de defesa do organismo, elevando o risco de complicações.

“Já sabíamos que o vírus usa a ACE2 para invadir células, mas descobrimos que outros receptores do sistema, como MAS1 e ACE, também são impactados. Isso explica por que a infecção desencadeia desequilíbrios prolongados”, destacou Thais Fernandes, biomédica e uma das autoras do estudo.

Idosos e comorbidades: vulnerabilidade duplicada
Pacientes idosos ou com doenças crônicas apresentaram níveis naturalmente mais baixos desses receptores, mesmo antes da infecção. Durante a Covid-19, a redução se intensificou, aumentando a propensão a quadros críticos e maior mortalidade. Alterações em microRNAs — moléculas que regulam a expressão gênica — também foram detectadas, sugerindo um efeito cascata no organismo.

Covid Longa: herança da desregulação persistente
O estudo revelou que o SRAA permanece desequilibrado por até 300 dias após o início dos sintomas, mesmo em pacientes recuperados. “A persistência do vírus ou de seus efeitos no organismo pode estar por trás dos sintomas prolongados da Covid longa”, explicou Dalziza Victalina de Almeida, orientadora da pesquisa.

Caminhos para novas terapias
As descobertas abrem perspectivas para tratamentos mais precisos. “Regular a expressão desses receptores, possivelmente via microRNAs, pode ser a chave para terapias eficazes e menos invasivas”, ressaltou Thais. A abordagem pode beneficiar especialmente grupos de risco, oferecendo estratégias preventivas e personalizadas.

Com cinco anos de pandemia, a ciência segue desvendando os enigmas do SARS-CoV-2, e estudos como este reforçam a importância de investir em pesquisa para salvar vidas.

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