Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) alertam para os riscos da exposição de gestantes a substâncias químicas persistentes, como PFAS e PCBs, capazes de prejudicar o desenvolvimento do sistema nervoso central de bebês. Publicado na Journal of Hazardous Materials, o estudo revisou evidências científicas que associam esses compostos a danos neurológicos fetais, mesmo em baixas concentrações.
As substâncias perfluoralquiladas e polifluoralquiladas (PFAS), apelidadas de "químicos eternos" por sua resistência à degradação, estão presentes em produtos como panelas antiaderentes, tecidos impermeáveis, embalagens de alimentos e espumas de combate a incêndio. Já as bifenilas policloradas (PCBs), banidas no Brasil desde 1981, foram amplamente usadas em equipamentos industriais e persistem no ambiente, contaminando água, solo e cadeias alimentares.
Exposição global e riscos na gestação
A pesquisa destaca que PFAS e PCBS são detectados globalmente, inclusive em regiões remotas como o Ártico e a Antártica. "Esses poluentes viajam longas distâncias pelo ar e água, acumulando-se em organismos vivos, como peixes, ursos polares e humanos", explica Rachel Ann Hauser-Davis, pesquisadora do IOC/Fiocruz. A exposição crônica ocorre via água e alimentos contaminados, mas os riscos aumentam durante a gravidez.
"PFAS e PCBs atravessam a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro, e interferem no desenvolvimento neurológico fetal por múltiplos mecanismos", afirma Daniel Adesse, do Laboratório de Biologia Estrutural do IOC. Estudos em trabalhadores expostos a altas doses comprovam efeitos negativos, enquanto pesquisas sobre baixas concentrações ainda estão em andamento.
Regulamentação e desafios no Brasil
Embora o Brasil tenha proibido PCBs há décadas, equipamentos antigos ainda representam riscos. Em 2021, uma lei determinou a eliminação desses resíduos até 2028. Para PFAS, porém, a situação é mais crítica: apenas três compostos do grupo têm restrições baseadas na Convenção de Estocolmo, e o país carece de monitoramento sistemático ou legislação específica.
Enquanto Estados Unidos e União Europeia avançam na regulamentação de PFAS na água potável, o Brasil aguarda a tramitação de um projeto de lei sobre o tema. "Precisamos de políticas baseadas em evidências e investimento em pesquisas, já que esses químicos persistem por séculos no ambiente", reforça Rachel.
Chamado para ação global
A comunidade científica pressiona por medidas urgentes. Na Europa, uma proposta para banir PFAS em produtos de consumo está em análise, e o estado do Maine (EUA) deu prazo até 2030 para eliminar os compostos. No entanto, o sul global, incluindo o Brasil, ainda tem lacunas críticas de dados. "A contaminação já ocorreu. Precisamos remediá-la e evitar novos danos", conclui Hauser-Davis.
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